Como viajar para a Europa sem gastar tanto

Madrid é uma das principais portas de entrada para a Europa. Foto: Amazonas e Mais

Viajar para a Europa não é bicho de sete cabeças — é método. Com um ano de antecedência, escolhas coerentes de roteiro e atenção aos grandes vilões de custo (passagens, bagagem, hospedagem e “pinga-pinga” de deslocamentos), dá para transformar o sonho em plano. Este guia reúne o nosso know-how de três décadas rodando Itália, França, Espanha, Portugal, Suíça, Bélgica, Holanda, Croácia, Eslovênia e muito mais, cruzado com boas práticas de viajantes e fontes oficiais recentes (como as novas regras de fronteira na UE). A ideia é simples: menos correria de “checklist”, mais imersão — e custos sob controle.

Planeje com 12 meses de antecedência

Defina o país (ou os dois países) da vez. Não “toque” um destino só para bater carimbo. Paris, Roma, Barcelona, Lisboa, Londres… pedem pelo menos cinco noites para um roteiro que vá além do básico. Em Paris, por exemplo, Notre-Dame, Torre Eiffel, Arco do Triunfo, Champs-Élysées e Sacré-Cœur são a porta de entrada; depois vêm Louvre, Musée d’Orsay, Hôtel des Invalides (túmulo de Napoleão) e os museus de guerra — um universo que não cabe numa passada apressada. Para comprar passagem, consulte buscadores, monitore feriados/altas temporadas e use períodos promocionais (ex.: baixa temporada, de fevereiro a junho e de setembro a novembro). Se você parcela mês a mês, a passagem deixa de ser susto e vira compromisso saudável do orçamento.

Passagens saindo de Manaus: conexões e segurança

De Manaus, quase sempre haverá conexão (Fortaleza, São Paulo, Recife, Brasília, Belém). Priorize bilhete único até o destino final (ex.: Manaus–São Paulo–Roma na mesma reserva). Se algo atrasar e você perder a conexão, a companhia tem dever de reacomodar, alimentar e, quando necessário, hospedar — amparo previsto pela Resolução 400 da ANAC e orientações oficiais ao passageiro. Ao “quebrar” a viagem comprando bilhetes separados (Manaus–SP e, à parte, SP–Europa), você perde essa proteção entre trechos, e um atraso vira rombo no orçamento.  

O que mudou na imigração europeia agora

Desde 12 de outubro de 2025, a União Europeia iniciou o EES (Entry/Exit System), que substitui o carimbo manual por um registro digital com biometria na primeira entrada após a implantação. É para quem não é cidadão da UE e entra no espaço Schengen; Irlanda e Chipre ficam fora. A regra do “90 dias dentro de 180” segue igual. O ETIAS (autorização prévia para isentos de visto) ficou para o último trimestre de 2026, segundo o próprio portal oficial da UE — ou seja, até lá não há taxa/ETIAS para brasileiros em turismo de curta duração, mas o EES já está em implantação e pode gerar filas na primeira entrada. Planeje chegadas com tempo folgado. 

Sintra fica bem perto de Lisboa, um dos destinos preferidos dos brasileiros

Quanto tempo em cada lugar (e por quê)

Grande capital = no mínimo cinco noites. A lógica é financeira e cultural: estadias longas diluem custo fixo (chegada/saída, deslocamentos caros, “taxa de troca de cidade”) e rendem descontos em hospedagem semanal. Além disso, você escapa da armadilha do “corre-corre” que encarece transporte e alimentação (pegar táxi porque perdeu o metrô, jantar caro porque não deu tempo de procurar algo local, etc.).

Hospedagem que não sangra o orçamento

Reserve cedo nas capitais. Considere B&Bs, pensões, hostels privativos, estúdios e hotéis em bairros conectados ao metrô — ficar a 15–25 minutos de uma estação central custa menos e mantém a mobilidade. Cozinha compartilhada ou mini-cozinha reduzem despesas de jantar (faça compras simples e deixe o restaurante “especial” para dias-chave). Em cidades menores, os preços caem naturalmente; encaixe “bases” nessas cidades para explorar a região.

Deslocamentos internos: trem, ônibus, low cost ou carro?

• Trem: confortável e cénico, mas nem sempre barato. Passes como o Eurail podem compensar em roteiros com muitos dias de trem (assentos e trens de alta velocidade/overnight pedem reserva paga à parte; coloque isso na conta).  

• Ônibus interurbanos: em trechos de 3–6 horas, costumam ser os campeões de economia (ex.: redes como FlixBus).

• Low cost: tarifas tentadoras, mas cheias de extras (bagagem, assento, prioridade). Leia a política de bagagem da companhia antes de pagar a “oferta do século” — o barato vira caro no portão.  

• Carro: imbatível para regiões rurais e vinícolas (Toscana/Chianti, Alentejo/Douro, Alsácia, Baviera, Eslovênia rural). Evite carro dentro de capitais (zona de restrição, estacionamento caro, ruas antigas). Monte a estratégia “capitais sem carro + interior com carro”: retire o carro ao sair da capital e devolva antes de entrar na próxima.

A Alsácia, na França, é um ótimo roteiro para se fazer de carro. Foto: Amazonas e Mais

Bagagem: o peso que encarece a viagem

A mala despachada cobrada à parte virou padrão em low costs; no longo curso, o perfil de franquia varia por tarifa. Regra de ouro: viaje leve. No verão europeu, um casaco leve resolve; no frio, aposte em camadas (segunda pele + fleece + corta-vento impermeável) para reduzir volume. Em low cost, verifique dimensões e franquias da bagagem de mão e da “pessoal” (muitas vezes só uma peça pequena está incluída). Em companhias como a Ryanair, o item pessoal é limitado e qualquer “desatenção” vira taxa.  

Alimentação: coma bem, gaste pouco

Fuja dos restaurantes a dois passos do monumento. Procure menus do dia no almoço, padarias, mercados e comidas rápidas de bairro; faça piquenique em parques; cozinhe no alojamento quando houver cozinha. Em grupo, vale comparar o passe diário de transporte com o custo de dividir um carro por um dia (fora das capitais) — às vezes o “tour circular” de carro por vilas rende um dia delicioso e barato.

Portugal como porta de entrada (e um choque cultural simpático)

Para brasileiros de primeira viagem, Portugal costuma ser um “amortecedor”: língua próxima, estradas excelentes e conexões fáceis com Espanha. Há pegadinhas de linguagem (“fila” = “bicha”; respostas literais como o clássico “na rua, ora pois” quando você pergunta onde pegar táxi dentro da loja), mas o país recebe tantos brasileiros que a comunicação flui. Use Lisboa ou Porto como base, alugue carro para explorar vilas e estradas (Douro, Minho, Alentejo) e depois conecte a Espanha (Al Andalus/Extremadura/Andaluzia) de trem, ônibus ou carro, devolvendo o veículo ao chegar às capitais.

Salamanca fica nos arredores de Madrid. Foto: Amazonas e Mais

Roteirização inteligente: menos países, mais camadas

Organize os dias por zonas da cidade para reduzir deslocamentos. Intercale dias intensos com “dias de respiro”. Em Paris, combine Louvre + Tuileries + Ile de la Cité num mesmo bloco; em Roma, agrupe Colosseo/Foro/Palatino, depois Trastevere + Vaticano em outra leva; em Barcelona, Sagrada Família + Eixample num dia, gótico/Barceloneta em outro. Cada bloco tem versões “premium” (pagas) e “pé no chão” (passeios gratuitos e vistas urbanas).

Metros, passes e pegadinhas

Nas capitais, o metrô é o rei — mas atenção: Paris tem muitas escadas; para quem está com idosos ou mobilidade reduzida, troque parte do metrô por ônibus/Uber. Em muitas cidades, passes de 24/48/72h valem a pena; já em grupos de 3–4 pessoas, comparar um Uber/Taxi curto com 4 bilhetes unitários pode surpreender. Valide bilhetes onde for obrigatório para evitar multas.

Documentos, dinheiro e chips

Leve passaporte válido por pelo menos seis meses, seguro-viagem (fortemente recomendado), cartões com spread baixo, eSIMs ou chips locais. Evite casas de câmbio de aeroporto/turistões; priorize cartão sem IOF abusivo e saques pontuais se necessário. Sempre cheque feriados, greves e grandes eventos na cidade que podem afetar transporte e atrações.

Quando compensa “open jaw” (chegar por um país e sair por outro)

Em roteiros lineares (ex.: Lisboa → Porto → Santiago → Madri → Barcelona), abrir a passagem (chegar por Lisboa e voltar por Barcelona) evita “volta boba” e, muitas vezes, sai no mesmo preço do retorno pelo ponto de origem. Para multi-destinos europeus, essa é uma das estratégias preferidas de consultores para otimizar custo e tempo — compare na pesquisa antes de comprar.  

Quanto custa “errar” na Europa

Os maiores sustos vêm de três fontes: 1) bilhetes quebrados sem proteção da conexão; 2) bagagem fora da regra; 3) trocar de cidade demais. Com o EES em implantação, some a isso o risco de filas longas na primeira entrada — evite conexões muito apertadas na chegada ao continente.  

Europa: o que fazer para economizar em uma viagem.
A Toscana é uma das regiões mais procuradas por quem visita a Itália. Foto: Amazonas e Mais.

Primeira vez? Três rotas “pé no chão” de 12 a 15 dias

• Portugal profundo: Lisboa (5n) + Douro/Porto (4n) + Alentejo/Évora (3–4n). Sem carro nas capitais; carro no meio.

• Eixo clássico: Paris (5n) + trem para Alsácia ou Vale do Loire (3–4n) + Bruxelas/Bruges ou Amsterdã (4–5n).

• Mediterrâneo fácil: Roma (5n) + Toscana de carro (4–5n) + Florença (3n) ou costa da Ligúria (3–4n).

Todas permitem versões de ônibus/trem e ajustes de número de noites conforme bolso.

Checklist final do viajante econômico

• Comprar cedo e com bilhete único até a Europa.  

• Prever primeira entrada com folga por causa do EES (biometria).  

• Viajar leve (bagagem = taxas), ler regras da low cost.  

• Nas capitais, metrô e pés; no interior, carro.

• Passes de transporte urbano e “menu do dia” para comer bem e barato.

• Evitar “tocar países”; cinco noites nas capitais-chave.

• Reservar hospedagem cedo; escolher bairros conectados.

• Ter seguro-viagem e plano de dados (eSIM).

• Conferir feriados/greves e reservar atrações concorridas com antecedência.

• Se usar passe de trem, lembrar que reservas podem ser pagas à parte.  

A Europa não é um destino “de elite” — é um mosaico de escolhas. Ao trocar ansiedade por método, você gasta menos e vê mais. Nosso arquivo de três décadas — com fotos, vídeos, trilhas rurais, ruas escondidas e museus fora do óbvio — está à disposição no Amazonas e Mais para inspirar seu primeiro (ou próximo) roteiro. E, como aprendemos ao longo dos anos, o segredo não é quantos países você “carimbou”, mas quantas camadas de cada lugar você levou com você. Boa viagem — e boas histórias na volta.

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