18/04/2024

Descubra o tacacá de Parintins e saiba o que é que ele tem pra ser tão bom

Tacacá de Parintins

O tacacá perfuma praças e esquinas de Parintins nos finais de tarde, com as tradicionais bancas das ‘tacacazeiras’. Fotos: Peta Cid

Texto: Peta Cid

Um cheiro que parece ter sabor. Um sabor que parece ter cheiro. A mais deliciosa mistura de aromas e sabores da Amazônia, o tacacá, perfuma praças e esquinas de Parintins nos finais de tarde, aguçando os sentidos entorpecidos pelo cheirinho típico, azedinho e incrivelmente estimulante. Não há quem resista à sinestesia inebriante de uma cuia de tacacá, estimulando o cérebro e acionando as glândulas produtoras de saliva. Definitivamente, o tacacá é de dar água na boca.

Em Parintins, a receita é queimosa, pimentosa e ardosa combinando goma de tapioca cozida, tucupi (sumo da raiz da mandioca) temperado com alho, coentro e alfavaca, cheiro-verde, cebolinha, camarão seco, molho de pimenta malagueta e jambu, a folha que ao ser mastigada faz tremer e adormecer os lábios.

Simpáticas, sorridentes e acolhedoras, as tacacazeiras ocupam pontos fixos, geralmente em uma esquina movimentada, perto de uma escola, nas praças, ou num lugar mais contemplativo como a orla da cidade. Elas chegam com suas bancas, arrumam toalhas brancas ou coloridas sobre as mesas, organizam as cuias, as vasilhas, os ingredientes previamente cortados, cozidos e acendem o fogareiro. O tacacá é servido bem quente, de preferência fervendo, então é preciso manter as chamas sempre acesas.

A banca Maya’s Tacacá está há 40 anos no mesmo ponto, aproveitando a sombra do muro da casa Maranhão, uma das mais antigas construções da ilha. Na subida do porto já se avista a banca que está sempre lotada. O tacacá é tradição de família, passou de geração a geração. “Começou com a minha avó Dina Garcia, depois passou para a minha mãe Mailda Garcia, que todos conhecem como Maya e agora eu estou preparando”, comenta Lilley Garcia. Ela conta orgulhosa que o tacacá ajudou na criação da família e que desde o ano passado o movimento nas vendas aumentou. “Temos uma freguesia muito boa”, afirma.

Lilley Garcia mantém a tradição da família na banca Maya’s.

Na banca da Gloria Diniz e da Sandra Oliveira, o cliente toma o tacacá apreciando o pôr do sol.

Francilene gosta da cuia completa, ou seja, com todos os ingredientes.

Marta Garcia tem banca na esquina da Rua Rio Branco e Avenida Amazonas.

Mauro Castro não dispensa o tacacá parintinense quando visita a terrinha.

 

Saudades do tacacá

Parintinense quando passa muito tempo fora, em outras cidades, a primeira coisa que faz ao chegar à cidade é tomar um tacacá. Mauro Castro é um deles. Ele trabalha como engenheiro na empresa Vale do Rio Doce, na Serra do Carajás e sempre que visita a família mata a saudade. “É um sabor inconfundível o tacacá parintinense”.

A maioria das tacacazeiras tem clientela cativa, pessoas que todos os dias saboreiam a delícia. “Tomar tacacá dá um suador, deixa a gente renovada, principalmente depois de uma ressaca”, revela Francilene Liberato da Silva, que escolheu a banca da Gloria Diniz e da Sandra Oliveira no final da Rua Armando Prado, onde se contempla o rio e o por do sol.

Francilene é daquelas que apreciam a cuia completa, mas há quem prefira sem camarão, por causa do sal, com pouca goma e mais tucupi, ou vice-versa. “Eu gosto com bem pimenta e jambu. Quando acaba o tucupi, eu quero mais”, diz animada.

Figura típica das ruas de várias cidades da Amazônia, em Parintins as tacacazeiras são cada vez mais jovens como a Marta Garcia, dona da banca na esquina da Rua Rio Branco e Avenida Amazonas. Com a brasa ardente, Marta cuida de mexer o tucupi e a goma para não “embolotar” ou “breiar” na panela. O vapor que sobe da mistura é sinal que está “tinindo”, pronta pra servir.

Nadson Silva leva a família toda para tomar tacacá.

Chico Ferreira diz que o tacacá parintinense é sem igual.

 

Freguesia fiel

A freguesia é animada, famílias como a do Nadson Silva e Dally Silva mal esperam para provar a delícia. “O cheiro tá muito bom”, diz Nadson, enquanto aguarda com as filhas Linda Naiá, Linda Mariá e Linda Nadiele.  “Não é todo dia que a gente toma, mas quando sai o dinheiro dá pra provar”, garante.

O Wilmarzinho Viana também pede uma cuia com tudo o que tem direito, assim como o Chico Ferreira, que esteve por algum tempo em Roraima e voltou à terrinha com vontade de tomar o tacacá.  “Esse é o tacacá nosso de cada dia, como ele não tem por aí não”, se empavula.

Ninguém consegue definir qual a categoria do alimento, mas o resultado da mistura é uma goma grossa, pastosa, com aparência de uma sopa ou mingau. Quando se fala no tacacá o verbo que se conjuga é o tomar. “Não sei de onde veio isso, mas desde os antigos se dizia que o tacacá não se come e nem se bebe, a gente toma. Deve ser porque é liso, não tem massa, ninguém masca”, supõe a tacacazeira Néia Andrade, de 69 anos, há treze colocando a banca na pracinha da Casa da Cultura.

Um tacacá gostoso também depende do amor e da dedicação de quem trabalha com a iguaria. “O sucesso do paladar está no trabalho com amor, paciência e confiança em Deus. Aprendi com minha mãe que mais de 30 anos vendeu tacacá na esquina do Cantão”, conta Benedita Rodrigues, que está há treze anos com a Banca da Bené, na Praça dos Bois. Para ficar mais saboroso, ela diz que tem um segredo no tempero que não pode revelar. “O segredo não posso contar, é a novidade”, diz sorrindo.

Benedita Rodrigues não revela para ninguém o segredo do tempero do seu tacacá.

A tacacazeira Néia Andrade tem banca há 13 anos na pracinha da Casa da Cultura.

Tomar tacacá à tarde é quase uma tradição na ilha.

Wilmarzinho Viana pede uma cuia com tudo o que tem direito.

 

Tradição cabocla

O lado da tradição cabocla que se mantém viva com centenas de bancas em todas as zonas da cidade é exaltado pelo professor Renner Dutra. Ele lembra que há pelo menos 45 anos a dona Bebé, na rua Boulevard 14 de Maio já vendia o tacacá. Além dela, a tacacazeira Maria Alva colocava uma banca debaixo de uma mangueira, na frente da antiga Casas Pernambucanas, no centro histórico da ilha.

“Parintins evoluiu, cresceu no nível de escolaridade, mas conserva muitas tradições caboclas, uma delas é o grande número de bancas de tacacá. Tudo muito limpo, higienizado, cuias escaldadas. Aqui não vingou a moda da tacacaria, o que o povo gosta mesmo é da tradição de sentar numa banca de tacacá”, sustenta o professor.

Tradição que por muitos anos foi mantida por Dona Maria Tacacazeira, uma das mais famosas da ilha, que colocava sua banca na esquina na escola Brandão de Amorim. Muitas vezes personagem de reportagens em vários veículos, foi preparar tacacá no céu e é lembrada com carinho por todas as tacacazeiras.

Dona Maria Tacacazeira, que já faleceu, uma das mais famosas da ilha.

Quem visitar Parintins no período de festa pode saborear o tacacá nas centenas de bancas espalhadas pela cidade. O valor da cuia com tudo o que tem direito é R$10,00 (Jun/2019). As amáveis senhorinhas aguardam os visitantes sempre com um sorriso, não se incomodam de acrescentar mais tucupi, mais pimenta, mais um pouco de jambu e muita, muita gentileza na hora de servir o tacacá.

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4 thoughts on “Descubra o tacacá de Parintins e saiba o que é que ele tem pra ser tão bom”

  1. Parabéns Peta Cid, excelente matéria, tão real que deu até água na boca…kkk

  2. Lillian Oliveira disse:

    Que matéria gostosa de se ler, estou salivando, com vontade de tomar uma cuia de tacacá, só fiquei triste por não estar em Parintins pra me deliciar, parabéns às tacacazeiras e a Peta Cid pela matéria excelente.

  3. Rafaela disse:

    Depois do falecimento da minha avó dona Maria tacacazeira hj sua sobrinha Juliana continua a tradição da família no mesmo lugar onde tudo começou. Convido a todos a provar o tacacá … herança tradicional de minha avó

  4. Silvano disse:

    Adoro tacacá, quando visitar Parintins com certeza não deixarei saborear essa iguaria.
    Gosto com bastante tucupi, jambu e camarão.

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